
Para desenvolver uma coleção de alta costura baseada na simbologia e estética do tarot, Maria Grazia Chiuri optou por interpretar caminhos misteriosos e místicos que emergem em tempos cataclísmicos, quando a humanidade se esforça para negociar com as mãos do destino.
“Quando está a viver um momento difícil, algo mágico pode ajudar-nos a pensar melhor”, referiu a criadora. “O impacto emocional do isolamento pandemico é um dos motivos para que possamos pensar e reflectir mais sobre vários aspectos de nós mesmos e da nossa vida”, observou . “Esta é minha crença: este ano mudou-nos muito.”
Pela segunda vez, foi Matteo Garrone o responsável pela produção filmada.
“Decidimos filmar uma história sobre uma jovem que entra num castelo. É um labirinto que representa uma viagem interior.
Quando a protagonista conhece cada uma das figuras do tarô, tem que tomar uma decisão sobre sua vida.
Por outro lado, esta passa a conhecer melhor também certos aspectos da sua personalidade e aprende a não ter medo do futuro”.
“A protagonista encontra a Alta Sacerdotisa, a Temperança, a Justiça e a Morte. Há corpetes com espartilho com flexão renascentista e cintura alta, mantos de brocado imponentes e vestidos delicados de plissé. O destino chega – aparentemente através de uma fusão simbólica de identidades masculino-feminina – com um beijo”.
A capacidade de prever o futuro – o que levará as pessoas a querer comprar dentro de alguns meses – está sempre presente no trabalho de um designer. – Christian Dior acreditava nisso.
“Ele descobriu o tarô na Segunda Guerra Mundial, quando sua irmã Catherine, que fazia parte da Resistência Francesa, desapareceu”, explicou Chiuri.
“Na minha opinião, acho que ele estaria tão assustado com a situação que provavelmente terá recorrido às cartas de tarô para tentar saber um pouco mais, para ter esperança de que ela voltasse…”
Essa história pouco conhecida da fundação da House of Dior foi revelada num livro sobre a vida de Catherine Dior, de Justine Picardie.
Chiuri acompanhou a autora na pesquisa, descobrindo a história angustiante da prisão de Catherine no campo de concentração feminino de Ravensbrück; como esta se consolou com o amor pela jardinagem após ser libertada e de que forma terá inspirado o seu irmão a tecer flores e feminilidade no seu trabalho para sempre.
Chiuri descobriu uma nova leitura na complexa teia de mistérios que se esconde por trás da simbologia ancestral dos arcanos do Tarot.
A razão para a iconografia reinventada da sua coleção – a atmosfera de fantasia dourada com sabor medieval italiano – deve-se ao facto de a própria história ter origem em Itália, país natal de Chiuri.
A criadora foi especialmente inspirada pelo estudo do primeiro baralho conhecido (o Tarot de Visconti-Sforza) – baralho este, criado por Bonifacio Bembo por volta de 1400 para entreter a família do Duque de Milão.
Três séculos depois, os franceses atribuíram às cartas poderes místicos de adivinhação da fortuna e renomearam-nas como Tarot.
Desta forma fortuita, também o universo criativo franco-italiano de Dior-Chiuri se funde de forma simbólica e sublime através desta colecção encantada.
A musica“Le Château du Tarot” é uma composição de Andrea Farri.
Fonte: https://www.vogue.com